A Leitura de Textos Filosóficos
Devido às dificuldades culturais e lingüísticas dos
estudantes, alguns não sabem ler, ou melhor, não compreendem aquilo que lêem.
Outro problema é a falta de hábito de ler. O desafio está lançado: cabem a nós,
professores, desenvolver, no interior do próprio ato de leitura, as habilidades
e competências requeridas para uma leitura edificante.
A leitura tem o poder de despertar em nós regiões que
estavam até então adormecidas.
“Nos meios de comunicação se ouvem queixas sobre o tema: ‘os
jovens não lêem mais’, ‘é preciso ler’, até mesmo ‘deve-se amar a leitura’”. (
Michele Petit – Os jovens e a leitura. Editora 34.2010. P.18). Segundo Michele,
a leitura de livros pode ajudar os jovens a serem mais autônomos. E prossegue:
“a leitura desperta o espírito crítico, que é a chave de uma cidadania ativa”.
(p.27)
Segundo Lidia Maria Rodrigo, autora do livro Filosofia em
sala de aula, um dos exercícios mais solicitados pelos professores nas escolas
é o resumo do texto. Mas, para Lídia, esse não é um ponto de partida adequado.
“É preciso lembrar que a análise deve anteceder a síntese.
A autora de Filosofia em sala de aula nos dá algumas dicas
de como ler textos filosóficos: “No nível médio, a leitura analítica ou
estrutural poderia ser simplificada, basicamente em três etapas (p.73s):
1) Esclarecimento semântico e conceptual – É uma etapa
preliminar, em que se busca a significação dos termos e conceitos
desconhecidos, podendo-se, para tanto, recorrer aos dicionários (de português e
de filosofia). Um dicionário acessível ao aluno de ensino médio seria:
Dicionário básico de filosofia, autores: Japiassu & Marcondes (1996),
2) Estruturação lógica do raciocínio – Trata-se de elaborar
um esquema, apresentando a estrutura discursiva do texto, mediante a elaboração
de uma espécie de índice dos vários tópicos abordados, segundo sua estrutura
lógica. Boa parte dos textos filosóficos admite uma divisão em três etapas
redacionais: introdução, desenvolvimento e conclusão.
A esquematização desses três momentos permite a visualização
do raciocínio do texto em sua globalidade, isto é, o encadeamento dos conceitos
e idéias (na construção dos argumentos).
3) Visão sintética do texto – Depois da leitura analítica,
que culmina na esquematização do raciocínio, pode-se construir uma visão
sintética e global, determinando:
ü
Tema: qual o assunto ou tema do texto?
ü
Problema: qual a grande pergunta do autor ou
problema central?
ü
Tese: qual a idéia central ou tese que responde
à questão posta pelo autor?
Texto: “Pensamentos” – Pascal
346 O
pensamento faz a grandeza do homem.
347 O homem
não passa de um caniço, o mais fraco da natureza, mas é um caniço pensante. Não
é preciso que o universo inteiro se arme para esmagá-lo: um vapor, uma gota de
água, bastam para matá-lo. Mas, mesmo que o universo o esmagasse, o homem seria
ainda mais nobre do que quem o mata, porque sabe que morre e a vantagem que o
universo tem sobre ele; o universo desconhece tudo isso.
Toda a nossa dignidade consiste, pois, no pensamento. Daí é
que é preciso nos elevarmos, e não do espaço e da duração, que não poderíamos
preencher. Trabalhemos, pois, para bem pensar; eis o princípio da moral.
348 Caniço
pensante – Não é no espaço que devo buscar minha dignidade, mas na ordenação de
meu pensamento. Não terei mais possuindo terras; pelo espaço, o universo me
abarca e traga como um ponto; pelo pensamento, eu o abarco.
Ver é diferente de enxergar. Ler é diferente de interpretar. O que você pensa sobre isso?
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