domingo, 10 de março de 2019


PARA QUE SERVE ENSINAR FILOSOFIA?

     Em nossa sociedade e cultura, costumamos considerar que alguma coisa
só tem o direito de existir se tiver alguma finalidade prática muito visível e de utilidade imediata.
      Verdade, pensamento racional, procedimentos especiais para conhecer fatos, aplicação prática de conhecimentos teóricos, correção e acúmulo de saberes: esses objetivos e propósitos das ciências não são científicos, são filosóficos e dependem de questões filosóficas.
     Assim, o trabalho das ciências pressupõe como condição, o trabalho da Filosofia, mesmo que o cientista não seja filósofo. No entanto, como apenas o cientista e o filósofo sabem disso, a maioria das pessoas continua afirmando que a Filosofia não serve para nada.
     A Filosofia, por suas características, tem condições de contribuir de forma bastante efetiva no processo de aprimoramento do educando como pessoa e na sua formação cidadã.
     Inúmeras são as razões que justificam a importância desta disciplina no ensino médio, dentre elas, pela sua especificidade, a Filosofia:
§  Abre o espaço por excelência para tematizar e explicitar os conceitos que permeiam todas as outras disciplinas, e o faz de forma radical;
§  Discute os fins últimos da razão humana e os fins a que se orientam todas as formas de ação humanas, e sob esse aspecto, levanta a questão dos valores;
§  Examina os problemas sob a perspectiva de conjunto – enquanto as ciências particulares abordam “recortes” da realidade – o que permite à Filosofia elaborar uma visão globalizante, interdisciplinar e mesmo transdisciplinar (metadisciplinar).
     Ao refletir sobre os pressupostos das ciências, da técnica, das artes, da ação política, do comportamento moral, a Filosofia auxilia o aluno a lançar outro olhar sobre o mundo e a transformar a experiência vivida em uma experiência compreendida.
     Na reflexão sobre os fundamentos e fins do conhecimento, a Filosofia investiga os instrumentos do pensar, como a lógica e a metodologia; distingue e compara as diversas formas de apreensão do real, tais como mito, religião, senso comum, ciência, filosofia etc.; elabora a teoria do conhecimento, indagando sobre as possibilidades e os limites desse conhecimento.
     A Filosofia também desempenha o papel de crítica da cultura. Para o historiador da Filosofia François Châtelet:
     (...) a “contribuição específica da Filosofia que se coloca ao serviço da liberdade, de todas as liberdades, é a de minar, pelas análises que ela opera e pelas ações que desencadeia, as instituições repressivas e simplificadoras: quer se trate da ciência, do ensino, da pesquisa, da medicina, da família, da política, do fato carcerário, dos sistemas burocráticos, o que importa é fazer aparecer a máscara, deslocá-la, arrancá-la...”
     O objetivo da disciplina no Ensino Médio é ampliar a capacidade de reflexão do aluno, articulando temas (sem ignorar a História da Filosofia) e sistematizando noções que lhe forem apresentados, de forma coerente e articulada e a reflexão surge após a identificação do “problema” proposto (existente no texto filosófico), isto é, como ele foi expresso em conceitos e propor sua reelaboração (pelos alunos, ou qualquer pessoa que se interesse)
     “Não se ensina filosofia, ensina-se a filosofar” (Kant). Filosofar é, também, não aceitar como verdadeira qualquer idéia sem antes submetê-la à dúvida, à investigação, à reflexão crítica e rigorosa. Isso significa que para demonstrar com consistência a utilidade ou inutilidade de Filosofia, ou de qualquer outra coisa, já teríamos de filosofar. Portanto, durante toda a nossa vida iremos filosofar, pois filosofar é viver.