quarta-feira, 20 de novembro de 2019
domingo, 10 de março de 2019
PARA QUE SERVE ENSINAR FILOSOFIA?
Em nossa sociedade e cultura, costumamos
considerar que alguma coisa
só
tem o direito de existir se tiver alguma finalidade prática muito visível e de
utilidade imediata.
Verdade, pensamento racional, procedimentos
especiais para conhecer fatos, aplicação prática de conhecimentos teóricos,
correção e acúmulo de saberes: esses objetivos e propósitos das ciências não
são científicos, são filosóficos e dependem de questões filosóficas.
Assim, o trabalho das ciências pressupõe
como condição, o trabalho da Filosofia, mesmo que o cientista não seja
filósofo. No entanto, como apenas o cientista e o filósofo sabem disso, a maioria
das pessoas continua afirmando que a Filosofia não serve para nada.
A Filosofia, por suas características, tem
condições de contribuir de forma bastante efetiva no processo de aprimoramento
do educando como pessoa e na sua formação cidadã.
Inúmeras são as razões que justificam a
importância desta disciplina no ensino médio, dentre elas, pela sua
especificidade, a Filosofia:
§ Abre o espaço por excelência para tematizar e
explicitar os conceitos que permeiam todas as outras disciplinas, e o faz de
forma radical;
§ Discute os fins últimos da razão humana e os fins a
que se orientam todas as formas de ação humanas, e sob esse aspecto, levanta a
questão dos valores;
§ Examina os problemas sob a perspectiva de conjunto –
enquanto as ciências particulares abordam “recortes” da realidade – o que
permite à Filosofia elaborar uma visão globalizante, interdisciplinar e mesmo
transdisciplinar (metadisciplinar).
Ao refletir sobre os pressupostos das
ciências, da técnica, das artes, da ação política, do comportamento moral, a
Filosofia auxilia o aluno a lançar outro olhar sobre o mundo e a transformar
a experiência vivida em uma experiência compreendida.
Na reflexão sobre os fundamentos e fins do
conhecimento, a Filosofia investiga os instrumentos do pensar, como a lógica e
a metodologia; distingue e compara as diversas formas de apreensão do real,
tais como mito, religião, senso comum, ciência, filosofia etc.; elabora a
teoria do conhecimento, indagando sobre as possibilidades e os limites desse
conhecimento.
A Filosofia também desempenha o papel de
crítica da cultura. Para o historiador da Filosofia François Châtelet:
(...) a “contribuição específica da
Filosofia que se coloca ao serviço da liberdade, de todas as liberdades, é a de
minar, pelas análises que ela opera e pelas ações que desencadeia, as
instituições repressivas e simplificadoras: quer se trate da ciência, do
ensino, da pesquisa, da medicina, da família, da política, do fato carcerário,
dos sistemas burocráticos, o que importa é fazer aparecer a máscara,
deslocá-la, arrancá-la...”
O objetivo da disciplina no Ensino Médio é
ampliar a capacidade de reflexão do aluno, articulando temas (sem ignorar a
História da Filosofia) e sistematizando noções que lhe forem apresentados, de
forma coerente e articulada e a reflexão surge após a identificação do
“problema” proposto (existente no texto filosófico), isto é, como ele foi
expresso em conceitos e propor sua reelaboração (pelos alunos, ou qualquer
pessoa que se interesse)
“Não se ensina filosofia, ensina-se a
filosofar” (Kant). Filosofar é, também, não aceitar como verdadeira qualquer
idéia sem antes submetê-la à dúvida, à investigação, à reflexão crítica e
rigorosa. Isso significa que para demonstrar com consistência a utilidade ou
inutilidade de Filosofia, ou de qualquer outra coisa, já teríamos de filosofar.
Portanto, durante toda a nossa vida iremos filosofar, pois filosofar é viver.
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